quinta-feira, 24 de abril de 2014

Viagem ao Centro-Oeste - Dia 5


O frio ainda era companhia mas o Sol não estava escondido e sabia que logo marcaria sua presença.

Logo ao sair de Cassilândia vi uma grande escultura de um boiadeiro em uma rotatória mas não sei se foi construído errado ou de maneira proposital mas o mesmo não estava virado de forma que facilitasse sua visão por quem ia ou vinha na estrada, no meu caminho ele ficou de costas então não mereceu foto.

Acho que ele estava com vergonha da estrada que viria pela frente.

Não existia mais acostamento, era inicialmente uma rala camada de asfalto com não mais que 1 metro de largura mas que deixou de existir rapidamente.

Em alguns trechos o micro acostamento voltava a aparecer e era uma extensão da estrada o que era ótimo porque não havia desnível entre pista e acostamento e a qualidade também permitia manter uma boa velocidade, porém tudo que é bom dura pouco, muito pouco e logo a pista de rolagem disponível para a bicicleta era a faixa branca que também determinava o fim do asfalto.

Pedalar nessa situação no minimo não era legal ainda mais quando estamos em época de colheita e a estrada é dominada por caminhões, bi-trens e até treminhões com seus 8, 9 eixos.

Passava 50% do tempo olhando pra frente e 50% olhando pro retrovisor e quando via uma carreta a atenção era triplicada. Ficava olhando o retrovisor para ver se ela começava a desviar.

Quando vinham os comboios de duas, três, quatro carretas era possível que a primeira desviasse porém as que vinham atrás não teriam tempo pra fazer a mesma coisa e nesses casos preferia sair para a grama e tomar uma surra da ventania que elas causavam a ser despedaçado por alguma delas.

Tenho que dizer que a maioria dos caminhoneiros me respeitavam e desviavam passando até pela pista contraria. Apenas 1 mereceu o dedo médio prostrado pois jogou deliberadamente a carreta sobre mim naquela tal da fina educativa.

Não sei dizer se eram as condições precárias da estrada ou o condicionamento que chegava no seu ótimo mas a velocidade média subiu.

Encontrei uma lanchonete decente onde encontrei até Gatorade e salgados assados que também deram um gás na pedalada.

Na hora do almoço já tinha pedalado 70 dos 100km do percurso e encontrei um restaurante que foi o pior destes dias mas que matou minha fome.

Quando falo que parava em restaurantes para comer alguma coisa parece que eu contava com a sorte na hora de me alimentar mas não é bem assim, eu sempre tinha comida necessária para concluir o percurso proposto, apenas gostava de utilizar destes recursos.

O trecho era predominantemente de subida mas que eram leves e permitiam manter uma boa velocidade.

Uma destas longas subidas me levaram para a região do Chapadão que era mais plano e também predominavam plantações de algodão.


Pra mim uma novidade ver os imensos fardos de algodão enrolados como rocamboles gigantes.


Finalmente cheguei em Chapadão do Sul e na foto abaixo é possível ver o espaço que eu tinha pra pedalar (a faixa branca...)


Eu ainda estava no Mato Grosso do Sul e o plano seria seguir até Rondonópolis no Mato Grosso e daqui pra frente teria uma parte que por um lado me parecia ser a mais interessante e por outro seria a mais complicada.

A estrada me dava a opção de ir até Costa Rica, distante uns 70km de Chapadão do Sul e como, teoricamente, seria a parte mais plana eu faria rapidamente este trecho e depois deveria seguir para Alto Taquari já no Estado de Mato Grosso.

O problema eram as más recomendações que eu ouvi de parentes sobre este trecho, que teria uma grande parte de subida, que era deserto, que a estrada era ruim etc, etc e etc.

Uma estória a parte da viagem era a preocupação de minha mãe. 

Quando tenho as idéias de viajar de bicicleta pra algum canto minha mãe só ficava sabendo quando eu já estava de volta e como dessa vez eu tinha saído da casa dela, não tinha como esconder.

Não gostava nem um pouco de ter que ligar pra ela todos os dias (isso quando ela não ligava duas vezes ao dia) informando onde eu estava, se tinha comido, se tinha acontecido alguma coisa, que onde eu estava ou iria era perigoso, pedindo pra tomar cuidado e etc.

Um homem casado, independente, com 40 anos de idade ter que dar satisfações pra mãe me faz parecer que ainda não saí das fraldas.

Entendo a preocupação dela por eu, o caçula, entre outros 4 irmãos, ser o favorito, sem que ela nunca fizesse questão de esconder dos outros.

Pra mim pesava na parte psicológica, parecia que tinha alguém zicando a viagem, claro que ela queria que tudo corresse bem mas isso gerava um efeito contrário que me desestimulava muito.

Juntando isso com as péssimas condições da estrada que eu tinha enfrentado no dia anterior me faziam imaginar o que ainda estava por vir.

Assim decidi ir de ônibus até Alto Taquari e fui na rodoviária comprar a passagem, que só encontrei para o dia seguinte.

Novamente o problema de como carregar a bicicleta no ônibus.

Entrei em contato com a empresa de ônibus e me informaram que se a bicicleta estiver encaixotada não teria problemas.

Tá, agora o problema era arrumar uma caixa. Como tem muitas bicicletas pela cidade achei que não teria problemas em arrumar uma caixa em alguma bicicletaria.

Entrei na primeira que vi e que era bem simples e dois rapazes vieram me atender e comecei a falar quando eles fizeram sinais mostrando que eram surdos e mudos... apontei uma caixa mas pelo que entendi eles não poderiam me atender.

Ao lado encontrei o que até posso chamar de bikeshop mas não tive muita atenção do proprietário que pelo menos falou pra eu procurar na rua das lojas de móveis e pra lá rumei.

Entrei numa loja espaçosa e desta vez fui bem atendido por uma vendedora que me levou aos fundos da loja onde haviam várias caixas de vários tamanhos e falou que eu poderia pegar o que quisesse. Peguei uma de TV e uma de um fogão e lá estou eu carregando duas caixas gigantes pelas ruas.

Andei pela cidade e nos mercados achava estranho o fato das pessoas passarem suas compras pelos caixas e ficavam paradas aguardando a menina do caixa colocar as coisas nas sacolas.

Em Sampa você se vira... salvo quando algum mercado tem as pessoas que só fazem isso. Eu particularmente não acho correto a dupla função caixa/empacotadora e também principalmente não custa nada você agilizar e já ir guardando suas compras enquanto elas são passadas mas, cada lugar com sua mania. 

O que me deixou encanado mesmo foi o ar de superioridade das pessoas ali estáticas de braços cruzados como se dissessem: "Eu nunca vou me rebaixar a guardar minhas coisas na sacola".

Observei também outros comportamentos que não gostei muito (e olha que em Sampa tem muita gente mal educada) mas que vou guardar pra mim pois, poderia estar sendo leviano já que passei tão pouco tempo nesta cidade e o foco da história aqui é a pedalada.

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