sábado, 12 de abril de 2014

Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 16°, 17° e 18° Dias

O ônibus sairia a tarde então tinha a manhã livre.

Estava com bastante bagagem e a caminhada até a rodoviária era um pouco longa e carregar tudo de uma vez seria complicado.

Tinha visto um guarda-volumes na rodoviária e decidi levar primeiro a bike e deixá-la lá até a hora da partida e não tive problemas porque carrinho ajudou bastante.

Saí então pra dar a última volta pela cidade.



E foi então que vi que não valeria a pena fazer o passeio do bondinho por causa do clima mas ainda consegui boas fotos.




E por falar em foto esta abaixo foi a última.


Andei até um shopping e queria aproveitar pra comer um belo bife de chorizo mas, mais uma vez a única lanchonete que encontrei que aceitava o cartão de crédito era o Mc Donalds.

Voltei ao Hostal, peguei o resto da minha bagagem e rumei para a rodoviária.

Peguei a bike e fiquei sentado esperando chegar a hora de embarcar. Na minha frente uma pequena tela que funcionava com moedas por determinados períodos dependendo da quantia que você coloca na mesma e você pode escolher o canal que desejar.

Escolhi um canal de esportes e percebi que o homem sentado ao meu lado espichava o olho pra aproveitar as imagens que minhas moedinhas proporcionavam.

Chegou a hora do embarque e pra quem viaja de bike é sempre uma hora tensa porque nunca se sabe o que esperar e desta vez eu tinha razão pra me preocupar.

E eu havia perguntado para o cara no guichê se teria problemas pra embarcar com uma bicicleta e eles sempre dizem que não, afinal são apenas vendedores que não se preocupam com o que acontece dali pra frente.

O ônibus de dois andares que já conhecia do Chile tinha o mesmo restrito espaço para as bagagens e estava lotado de turistas estrangeiros que se dirigiam para as cataratas na fronteira do Brasil com a Argentina.

O primeiro contato com o motorista foi o pior possível. Logo de cara ele disse: Não dá. Tem que ser despachado por transportadora.

Argumentei, supliquei e ele mandou eu ir falar com o carregador. Este também não estava muito disposto a me ajudar e foi falar com outra pessoa e voltou falando que eu tinha que pagar, coisa de 20 pesos pelo que me lembro. Tudo bem eu disse e entreguei o dinheiro pra ele e a bike foi colocada no bagageiro.

Entrei no ônibus, subi a escadinha e localizei minha poltrona. Alguns minutos depois olhei pela janela e vi a bicicleta pra fora do bagageiro.

Fui falar com o carregador e ele me devolveu o dinheiro falando que não seria possível...

Mais um tempo de conversa que já envolvia mais umas três pessoas e o dinheiro foi pra uma delas e o embarque foi autorizado e a bicicleta foi colocada no bagageiro novamente.

Fiquei ali até que todas as bagagens dos passageiros, que não eram poucas porque a maioria das pessoas que fazem este percurso são europeus com suas enormes mochilas cargueiras, fossem carregadas e o ônibus se prepara-se para partir.

A boa notícia é que eu não teria ninguém ao meu lado enquanto o resto do ônibus estava lotado.

Agora estava tudo bem e a longa viagem começava.

Reconhecia algumas coisas como o monumento a virgem desnuda citada pelo blog do Arthur.




17° Dia

Sinto muita dificuldade em dormir nesses ônibus de viagem e dessa vez não foi diferente.

Seguia acompanhando as placas da estrada com os mapas que eu tinha pra tentar me localizar e calcular o tempo que duraria o resto da viagem.

A paisagem realmente é bem parecida com as que eu conhecia pelas viagens pelo Brasil e me sentia reconfortado em ter decido acabar com a viagem de bike.

A única visão que chamou a minha atenção foi um curral com uma imensa boiada, muito maior do que todas as que eu já tinha visto e olha que já tive a oportunidade ver e até tocar algumas.

Como sempre estas longas viagens de ônibus tem seus atrasos de 2, 3 ou 4 horas do prazo e isso causava agonia quando o ônibus estava parado sem motivo aparente.

Finalmente chegamos a Puerto Iguazu.

Agora, como chegar ao Brasil?

Felizmente numa cabine de táxis ví os preços para as corridas até Foz do Iguaçú então num deles embarquei.

Ao chegar na fronteira é feito o trâmite de entrada de dentro do táxi mesmo e assim que deixamos a cabine, que mais parecia uma cabine de pedágio, um policial federal ali parado me questionou se a bike que estava no banco de trás havia sido comprada na Argentina e eu apenas respondi que era minha e que estava voltando de uma viagem de bicicleta e ele sinalizou para prosseguirmos.

Desci então na rodoviária de Foz e paguei a corrida com os restos dos Pesos e alguns Reais que eu tinha em mãos.

Fui então comprar a passagem para São Paulo e sempre tentava me certificar que não teria problema mas desta vez estava mais tranquilo porque, como sabemos, este trajeto traz os muambeiros do Paraguai.

Comi um belo PF (não, não é um Policial Federal bonito não!) com arroz, feijão, fritas e bife a cavalo.

Aguardei algumas várias horas pra partida até a hora do embarque.

Como esperado não tive problemas com a bike, apenas pesaram a caixa, mas o motorista não queria me deixar subir por causa das duas mochilas e tive que mostrar pra ele que uma só tinha blusas e roupas de frio e ele me deixou subir.

O ônibus saiu da rodoviária e eu sentia tranquilo porque o ônibus estava praticamente vazio mas esta situação se modificou na primeira cidade que o ônibus fez uma parada.

Os muambeiros, ou pelo menos a maioria deles, não sobem em Foz do Iguaçu tentando fugir de alguma fiscalização.

Ônibus lotado com aquelas pessoas educadas e silenciosas que eu tinha me acostumado deram espaço aos mal educados e barulhentos muambeiros que parecem já estarem vendendo seus produtos aos gritos na Rua 25 de Março.

Ao sair da rodoviária um clima tenso tomou conta dos muambeiros que temiam alguma fiscalização a frente e esta preocupação realmente fazia sentido pois fomos parados no meio da estrada.

Alguns passageiros foram chamados e depois de uns 20 minutos o ônibus foi liberado e as reclamações dos prejuízos causados pelas propinas (desta vez a velha e não tão boa propina brasileira diferente da que tive que pagar no Chile) dadas aos policiais foram o assunto que adentraram pela madrugada.




Dia 18

O trânsito pra entrar na cidade de São Paulo eram os cumprimentos que me traziam de volta pra realidade.

Desembarquei no terminal da Barra Funda, entrei novamente num táxi e o desejo de um banho que não tomava a dois dias, era quase tão grande quanto a vontade de reencontrar com minha casa e minha esposa.

E assim terminou de vez todo o planejamento de 1 ano e meio de estudos de mapas, procura de equipamentos, documentos, vacinas e levantamento de verbas e que sinceramente valeram cada segundo deste trabalho despendido.

As lembranças desta aventura quase que diariamente voltam a minha mente chegando a me arrepiar e me dar forças pra encarar outros desafios.

Não me arrependo de nada mas se fizesse novamente mudaria algumas coisas mas só sei disso hoje porque me lancei sem ter medo de errar e provavelmente mudaria novamente no final desta afinal a vida é uma junção de aprendizados.

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