sábado, 30 de novembro de 2013

Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 14° Dia

Mais um dia de 100km pela frente.

Me perdi um pouco pra sair da cidade.

Quando consegui chegar na estrada sabia que em algum momento teria que sair da estrada principal e pegar uma estrada secundária mas não tinha certeza de onde eu estava.

Um rapaz numa bicicleta vinha em minha direção e tentei pedir informação mas o mesmo passou direto mesmo eu gritando falando Hey Amigo!! Por favor!! Holla!!!

Parecia que eu não existia... mais um que fugia de mim.

Segui e encontrei a estrada correta e assim que entrei nela um senhor me chama e pergunta por que eu estava indo por aquela estrada e eu respondi que era o caminho mais curto pra Salta e ele falou que era uma estrada feia fazendo gestos de muitos sobes e desce.

Neste mesmo momento encostou um casal de cicloturistas franceses em uma incrível tandem e começamos a conversar e falei do comentário do senhor e concluímos que estávamos no caminho correto que realmente era o mais curto.

Começamos a pedalar e duas ciclistas passaram por nós.


No começo eu me esforcei pra tentar acompanhar o ritmo dos franceses mas era impossível. Não tinha como vencer dois ciclistas em uma bicicleta e eles foram se distanciando.

Voltei a ficar sozinho novamente e cheguei na região dos diques.


Notei que os argentinos assim como os chilenos também fazem grandes homenagens aos falecidos na estrada só que aqui predomina bandeiras na cor vermelho grená. Depois descobri o porquê mas não me lembro no momento, parece que tem algo a ver com um menino que eles chamam de Gauchito.


Mais a frente ví as duas ciclistas que haviam passado por mim e eles me chamaram falando que meus amigos tinham errado o caminho e entraram na cidade de El Carmen que eu havia passado a pouco.

Expliquei que não eramos amigos e que nos conhecemos no mesmo momento que elas nos passaram e conversamos mais um pouco e fiquei abismado em saber que uma delas era mãe de 5 filhos.


Elas contaram que eram de Salta e que haviam ido passar a noite em Jujuy e agora estavam voltando pra casa.

Partimos e elas logo se distanciaram.

A estrada, diferente do que o senhor havia dito, era muito bonita e muito estreita de forma que só dava pra passar um carro em muitos trechos porém o fluxo era nos dois sentidos mas quase não passavam carros.


Vira e mexe eu conseguia ver alguns lagos.


Passei por umas placas que diziam alguma coisa de dedos e em determinado momento resolvi tirar uma foto do 3º dedo.


Passei depois pelo quarto e quinto dedos e a frente descobri o que significava.


Depois deste trecho começou uma serra e encontrei novamente minhas novas amigas. Conversamos mais um pouco e elas partiram.

Começou a descida e minha água acabou.

Eu via muita água do meu lado mas não havia como chegar até ela e não tinha nenhum lugar pra comprar nada.


Parei numa sombra na entrada de um sitio e tentei chamar mas ninguém atendeu.

Era frustrante ter tanta água por perto e eu não tinha acesso a ela.


Foi quando um rio começou a correr do meu lado e desci um barranco pra conseguir água que estava uma delícia... nem lembrei que tinha Hidrostéril na bagagem pra estas situações.

Logo a frente começou a aparecer alguns comércios e parei em um deles e os franceses apareceram novamente.

Eles falaram que pararam em El Carmen propositalmente pra comprar água.

Seguimos então para Salta e eu achava muito interessante a bike deles e a posição de pedalar da garota que em alguns momentos ia lendo um guia enquanto o rapaz cuidava do caminho.


Me esforcei bastante mas consegui acompanha-los pelos 8km que faltavam até chegar em Salta.

Na cidade vi a dificuldade de manobrar este monstro pelas ruazinhas da cidade, sem contar a atenção que ela chama.

Em Salta encontramos um hostal e nos instalamos.

Mais uma fotinho dessa bike que anda muito mas é muito complicado pra começar a pedalar quando está na subida.



Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 13º dia

Acordei, fiz um café da manhã e parti mais uma vez.


Desta vez o destino seria San Salvador Jujuy a 60km.

O vento estava a favor e eu fazia incríveis 30km/h.

Passava por um patrimônio da arqueológico, Huajra.

Um pouco depois da Quebrada de Humauaca ví uma forte neblina a frente.


Não me lembro de ter passado alguma vez por uma neblina tão forte.


Uns 5km a frente como num passe de mágica a neblina sumiu e parecia que eu tinha atravessado para a 3ª dimensão... a paisagem de bege com pouca vegetação rasteira deu lugar ao verde com árvores pra todo lado.


Parei em uma parte da estrada que tinha árvores dos dois lados e cobriam a pista e muitas eram amoreiras, carregadas de amoras maduras... nunca comi tanta amora na minha vida!!!


Neste lugar uma placa diz:

Senhor turista você está entrando na região mais bela do País (na verdade eu estava saindo)... só não concordei totalmente porque não conheço a região da Patagônia que dizem que também é incrível.


Nestes 60km passei por pelo menos 3 postos de polícia e em todos eles os policiais estavam pra fora fazendo seu serviço, fiscalizando.

Estranhei que passei por um e em menos de 500 metros a frente havia outro e a mesma cena se repetia, policiais parando veículos e diferente do Brasil você tem que parar ao lado deles no meio da estrada, se você for pro acostamento vai arrumar dor de cabeça.

Rapinho cheguei em San Salvador Jujuy e fiquei curioso com o mato que crescia nos fios da rede elétrica, depois meu sogro me explicou que esta praga também acontece no Brasil, eu particularmente nunca vi.


Como é difícil encontrar hotel que aceite bicicleta nas cidades maiores.

Depois de pedalar pela cidade e me irritar com o trânsito local ao qual eu não estava mais acostumado encontrei o mesmo hotel que o Arthur havia ficado, hotel Rio de Janeiro e ali me instalei.

Saí pela cidade e voltei bem no meio da hora da ciesta e só percebi quando depois de bater muito na porta vi a cara de sono da recepcionista.

A noite sai mais uma vez pra procurar um lugar pra comer e eu estava numa região bem movimentada e encontrei um lugar que me entregou um bife gigante com dois ovos e a gema mole e batatas fritas.

Comi tudo, sentia que o clima favorecia pra minha vontade de comer voltar ao normal.

Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 12º dia

Noite boa e bem quentinha até que enfim.

Quando saí do hotel quase não acreditei no que eu via, parecia uma cidade abandonada.


Pelo menos tinha algumas pessoas na rua e depois fiquei sabendo que aqui tem um cemitério que tem alguma coisa interessante mas fui logo embora.


Um riozinho quase congelado que corria logo na saída da cidade dava a noção do frio.

De cara uma bela subida.


O triste agora é que você sobe e depois desce tudo o que subiu e tem que subir novamente.

A cada momento ficava impressionado com a grandeza da Cordilheira dos Andes e apesar de tudo me sentia muito feliz por estar ali.


Imagine a letra U deitada, você começa a descer e consegue ver a estrada subindo do outro lado e já tinha a noção do que iria enfrentar. Nas estradas que é uma reta com sobe e desce você pelo menos está indo pra frente mas aqui não, você quase volta pro ponto inicial.


Sabia que o pedal seria de mais de 100km pra chegar em algum lugar que eu pudesse pernoitar e a escolha era Purmamarca.

Em determinado momento as curvas terminaram e entrei numa reta que parecia não ter fim.

Eu via os faróis dos carros que vinham na minha direção mas demorava muito pra cruzar o veículo.

Já conseguia ver montanhas ao fundo e sabia que teria que cruzá-las pra chegar na Cuesta del Lípan.

Na hora do almoço ví umas casinhas, algumas sem teto, 4 no máximo mas só em uma tinha uma pessoa. Cheguei perto e o caboclo quando me viu saiu correndo pra dentro da casa como o diabo foge da cruz... devo estar judiado mesmo, é a segunda vez que quando me vêem saem correndo em dois dias!

E ele parecia usar uma camisa do Vasco da Gama... talvez se soubesse que sou brasileiro teria corrido mais ainda a receptividade seria melhor.

Momentos depois apareceu um tiozinho com traços indígenas, pele escura e chapelão.

Olhei pra ele e perguntei se poderia comer por alí.

Ele gruniu e fez um sinal com o braço como se dissesse: Bah!! Come aí e não me enche o saco e voltou pra dentro da casa.

Tah bom... obrigado pensei.

Descansei um pouco e segui.

Algum tempo depois, ainda na mesma reta, cheguei em Salinas Grandes, um ponto turístico que possui um restaurante com as paredes feitas de sal e também algumas esculturas.



Este salar, diferentemente do salar do Atacama é plano como "é o normal" com desenhos hexagonais.


Mais alguns quilômetros a frente um casal de argentinos numa pick-up me chamou quando eu passei.

Conversamos um pouco e bastou falar que eu era brasileiro para insistirem em me dar carona. 

Desta vez falei que não precisava mas eles persistiram falando que teria uma serra forte pela frente, que eles também estavam indo pra Purmamarca, que estava frio, que isso, que aquilo e me convenceram mas falei que desembarcaria pra descer a Cuesta del Lípan e assim fomos os três espremidos na cabine porque eles queriam conversar e não me deixaram ir na caçamba.

Era um casal que mostrava vem a diversidade da população Argentina, ele era do Norte com traços indígenas e pele escura e ela do Sul, branquinha com cara das argentinas de Buenos Aires.


Paramos pra fazer algumas fotos e um pouco mais a frente desembarquei num lugar que tinha totem, uma placa que indicava a altitude e tinha uma tiazinha indígena vendendo artesanato.


Dali pra frente seria uma descida de uns 20km até Purmamarca passando pela alucinante Cuesta del Lípan que é a descida da Cordilheira dos Andes e que tem uma estrada incrível e cheia de curvas.



Considerava este lugar como o marco da ultrapassagem de todas as dificuldades e que dali pra frente a viagem seria mais light.

Deixava pra trás a dureza da Cordilheira dos Andes e voltava a uma altitude mais amena.

Coloquei a trilha sonora especialmente feita pra este momento e quando saia um carro com umas gringas passou por mim e gritaram: Where you from?

Não ia mais parar, só gritei BRASIL!!!! E elas deram um grito de UHUH!!!

Logo depois uma van que deveria estar trazendo turistas de Salinas Grandes começou a vir atrás de mim, fiz sinal para ultrapassarem mas responderam que eu poderia continuar... na certa estavam acompanhando meu estase ou ficavam imaginando de onde vinha este doido.

Este lugar também ficou na minha cabeça. Parecia aqueles cenários grandiosos de filmes, tipo Senhor dos Anéis ou coisa parecida.



Tudo era muito grandioso e majestoso. Pena que as fotos não cheguem perto de dar noção do que é este lugar.


Aproveitei muito a descida mas um tempo depois o vento ficou muito forte e eu tinha que pedalar pra descer ou simplesmente pararia. O frio também atravessava as duas luvas que eu usava.

Cheguei em Purmamarca e encontrei uma boa pousada pra passar a noite bem próxima do centro.  


Assim como San Pedro só tinha gringo que saem para os passeios a partir dali e o melhor é que o preço era bem menor.


A cidade também é conhecida por ter o Sierro de las Siete Colores e assim como no Valle de La Luna a atração é o por-do-sol que permite ver as sete cores do morro mas do meu quarto eu já conseguia vê-lo e não ia sair pra fazer nenhuma trilha.


Fui até uma lan house pra avisar minha mulher que já tinha voltado pra civilização pois ela sabia que eu não teria como entrar em contato por pelo menos 5 dias e ela ficou feliz por eu ter "ganhado" um tempinho.

Preparei meu rango no quarto, lavei umas roupas e dormi.

Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 11º dia

Me dava conta que passara minha primeira noite na Cordilheira dos Andes.

A noite foi fria. O mijão, não eu, é uma calça fina, a calça de moleton e outra calça impermeável, uma camiseta de manga curta, outra de manga comprida, a blusa de moleton, a jaqueta, a touca, as duas luvas e o saco de dormir não deram muita conta do frio mas não me deixaram morrer congelado.

Os holandeses que me viram variar todas estas roupas nos dias no camping falavam que eu carregava muita coisa mas eu não tinha outra pessoa pra me aquecer a noite e ficava imaginando se eles se bastavam nas noites frias ou se os equipamentos delem eram muito superiores aos meus.

O dia começava, desmontei e arrumei a bagagem e fui em direção a estrada.

Quando cheguei na estrada havia um caminhão quebrado e fui conversar com o motorista pra me informar como seria o caminho dali pra frente.

Ele me disse que ainda teria que subir mais um pouco mas que a estrada consistia em um sobe e desce constante até a Argentina e me convidou pra ir com ele.

Pensei, não muito, e resolvi aceitar, afinal ganharia uns 2 dias e ainda poderia me encontrar com os holandeses novamente.

O caminhão transportava um contêiner e entre ele e a cabine tinha um lugar estratégico que poderia colocar a bike.


Perguntei sobre como ele consertaria o caminhão e ele falou que mecânicos já estavam a caminho e realmente em meia hora eles apareceram.

Pelo que entendi era algum problema no freio que segurava o caminhão. Andamos devagar e paramos várias vezes até que o problema fosse solucionado e isso consumiu longas horas e então os mecânicos tomaram a frente e sumiram na estrada.

A partir deste momento pude apreciar a viagem e me deslumbrar mais algumas vezes com as magnificas paisagens da Cordilheira que mostravam montanhas multicoloridas porém sem nenhuma vegetação, lagoas verde esmeralda, mais alguns salares e um frenesi de Vicunhas (primas selvagens das lhamas) que corriam ao lado do caminhão e por vezes cruzavam a estrada fazendo a viagem parecer um verdadeiro safari.


Em determinado momento passamos holandeses. Eles se assustaram ao me ver na cabine do caminhão e devem ter pensado que brasileiro é mesmo folgado.


De qualquer forma me sentia aliviado por eliminar um pouco do meu sofrimento. 

Falei que os esperaria em Paso de Jama.

Já havia passado da metade da tarde quando chegamos na fronteira e contabilizava que eles não conseguiriam chegar ali naquele mesmo dia.

Desci do caminhão e fui pegar a bike e o resto do equipamento quando tive o maior frio na espinha até então... onde foi parar o saco de dormir????

Provavelmente caiu em uma das inúmeras curvas da estrada. Não faço ideia de como isso aconteceu pois tudo estava muito bem amarrado mas se ele se soltasse realmente não havia nenhuma barreria que o impedisse de rolar para o acostamento já que a carroceria era plana.

Fiquei uns dois minutos estático com o cérebro fritando a mil imaginando como seria dali pra frente... vou dormir aqui, depois sou obrigado a chegar em Susques em apenas um dia o que era impossível nas minhas condições e a partir dali sempre teria que contar em chegar em alguma localidade pra procurar abrigo.

Tirei tudo do caminhão e fui fazer os trâmites aduaneiros e nem mais ligava para a cara de espanto dos militares que faziam a segurança da fronteira.

Entrei na "casinha" de teto baixo que abrigava a aduana. Passei por uma senhora que tinha a boa vontade característica de funcionários públicos e ela me pediu os documentos do meu veículo e quando falei que era uma bicicleta ela que estava de cabeça baixa só levantou os olhos por cima armação dos óculos na ponta do nariz e pediu a nota fiscal da bicicleta.

Olhou meus documentos e me indicou a mesa no fim do corredor onde havia mais um funcionário da aduana. Este pegou meu RG, a nota fiscal da bike e logo me deu a papeleta de entrada na Argentina... Achei rápido demais mas ainda estava pensando no problema do saco de dormir e saí da aduana.

Conversando novamente com os militares eles informaram que tinha um hotel ali mas era caro (felizmente eu estava prevenido com os pesos Argentinos que levei do Brasil) e aí começaram a botar mais empecilhos falando que era só pra funcionários de uma empresa que havia ali perto, que eles não poderiam fazer nada e que seria melhor eu continuar na carona.

Me vi sem escolha e quando estava indo falar com o Nestor (o motorista do caminhão) que ainda estava por ali, o funcionário da aduana que havia me liberado saiu da aduana e me chamou indicando pra eu ir para um grande galpão ao lado.

Ele abriu a porta e só não estava completamente vazio porque tinham duas mesas e ele falou: Tire tudo das bolsas.

E eu que estava pensando que tinha resolvido meu problema estava prestes a conseguir outro... não que eu estivesse transportando algo ilícito mas sabia que teria que enfrentar alguma burocracia a boa vontade do fiscal e ainda de perder minha carona.

Ele observava tudo mas percebi que ele tinha mais curiosidade em ver o equipamento que eu transportava do que alguma fiscalização mesmo.

Tive certeza disso quando ele perguntou qual era o material do corta-vento que eu estava usando e quanto custava no Brasil e perguntas tipicas de quem quer saber sobre a viagem.

Perguntou também onde ele poderia conseguir a película do Rei do Gado... Perguntei o CD com as músicas? No, la película! Não tinha a menor ideia se a Globo disponibilizava novelas em DVD ou qualquer outra forma. Depois disto ele me liberou.

Arrumei as coisas novamente nos alforjes da maneira mais rápida possível e corri pra fora pra ver se o caminhão ainda estava lá e pra minha sorte estava.

Nestor concordou tranquilamente em me levar até Susques que seria seu ponto final.

Ficamos pelo menos mais uma hora na fila de abastecimento do posto que fica colado na aduana e pelo menos mais meia hora abastecendo... não sei se era problema na bomba ou a altitude ou má vontade do frentista, enfim.


Seguimos em direção a Susques e chegamos já a noite. Me despedí do Nestor que dormiria no caminhão e ofereci a ele uma nota de 20 dólares, ele não quis aceitar mas insisti pelo grande favor que ele me havia feito.

A cidade parecia daquelas de faroeste com vento criando redemoinhos, ruas de terra e vazias.

Entrei em um estabelecimento parecia um restaurante mas que indicava Habitaciones e quando as meninas, tipicamente indígenas da região dos Andes, me viram, duas delas saíram correndo pra dentro da casa e a que ficou me olhava assustada. Pedi um quarto e ela falou que não tinha.

Andei mais um pouco e encontrei outro lugar que se dizia hotel mas que parecia tudo menos hotel... Mas tinham quartos.

A mulher que me atendeu perguntou com baño o sen baño? Tá pode ser sem banheiro mesmo. Ela deu a chave do quarto e me mostrou onde seria o lugar pra tomar banho. Tinha realmente um chuveiro, o registro e o que parecia ser uma torneira na parte de baixo sem pia que não consegui entender pra que servia e mais nada, nem pra pendurar a toalha. 

Bom vou pendurar a toalha na maçaneta do lado de fora e quem disse que a água esquentava e o pior, a água ainda escorria por debaixo da porta pra fora do banheiro e molhava a toalha... aí não dá!

Saí e falei pra ela que queria cambiar para um quarto com baño e tudo se resolveu.

Por sorte ali também funcionava um restaurante e fiz ali meu jantar.

Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 10º dia

Acordei cedo, não tanto quanto eu gostaria mas mesmo assim comecei a me preparar para seguir viagem.

Tomei um café em uma lanchonete, passei pela Aduana e peguei a estrada sentido a Argentina.

Em poucos quilômetros já estava na base da temida subida pra Cordilheira dos Andes. 50KM apenas subindo somente com a companhia constante do Vulcão Licancabur do meu lado esquerdo que ia ficando maior a cada km.



Não tem muito pra falar apenas que foi difícil, muito difícil subir com a bike carregada e com peso extra de 8 litros d'água.

Subi devagar, bem devagar.



Ainda não me sentia totalmente recuperado dos dias sem comer.

Com cerca de 40km não aguentava mais e montei minha barraca próximo a estrada que vai para a Bolívia.

A imensidão da paisagem, a dureza da subida, o vento, o frio e a sensação de solidão mastigavam e cuspiam meus pensamentos. Não sei o que foi mais difícil o esforço físico ou o mental.

E isto seria só o começo. Ainda teria mais uns 120km pra chegar na fronteira com a Argentina, o que não é uma distancia impossível de se fazer em um dia desde que a bagagem não estivesse tão pesada e as demais condições contrárias não estivessem jogando tão pesado.

Foi um final de tarde de batalha entre a sobriedade e o devaneio dos pensamentos.

A noite o céu estava encoberto impossibilitando admirar as bilhões de estrelas então me enfiei na barraca e tentava me distrair lendo anotações, embalagem de sopas, latas de atum, qualquer coisa que fizesse o tempo passar.

Cicloturismo pelo Chile e Argentina - 9º dia

A noite foi difícil não só pelos meus amigos pierros mas também pelas festas barulhentas do sábado.

Tinha comprado com a Grado 10 o passeio para as Lagunas Altiplânicas que inclui o Salar do Atacama e Toconao e quando cheguei na porta da agência o dono estava lá e falou que não havia conseguido a quantidade suficiente de turistas para usar o caminhão e por isso havia me colocado no passeio de outra agência.

O que entendi foi que é mais vantajoso ir para os Geisers del Tatio com o caminhão e como ele já havia me vendido o passeio, me colocou em outra agência que poderia ter o preço mais baixo e assim fiquei no prejuízo mas fazer o quê aquela altura?

Pouco tempo depois vejo meus amigos Holandeses vindo pela rua e conversamos um pouco e eles já estavam indo embora seguindo para o Paso de Jama... mesmo caminho que o meu e me questionei se não seria melhor ir com eles, mas não queria atrapalha-los e tinha o passeio pra fazer mas também estava bastante apreensivo em fazer sozinho esta parte da viagem que era a mais inóspita até agora.


Fui então fazer meu passeio e na van tinha um casal de brasileiros de Santos, fiquei feliz por poder falar novamente o português.

O passeio começa pelo Salar do Atacama (3° maior do mundo) que é diferente de qualquer outro salar pela sua aparência onde o sal é liso e mais parece com inúmeros morrinhos de areia que caiu água da chuva... totalmente irregular.


Tem também uma grande lagoa com belo reflexo de um vulcão fundo e pela primeira vez ví Flamingos.



Vale mais uma historinha do guia que contou a "triste" vida de um Flamingo.

Ele encontra uma parceira, vive com ela pelo resto da vida, sua relação sexual dura poucos segundos e só acontece no meio de um monte de outros flamingos... realmente triste.


Saindo dali fomos em direção as lagunas passando no meio de Toconao que visitaríamos na volta.


As lagunas ficam longe e ao sair do asfalto ainda temos que chacoalhar bastante em uma estrada de terra porém vale a pena qualquer sacrifício.

As lagunas estão escondidas atrás de uma montanha e quando a van transpõe a mesma, é revelada uma imensa lagoa de cor azul forte e muito, mas muito linda mesmo! Mais uma visão inacreditável. Que só cabe se for em foto panorâmica.


É uma pena (ou não!) que não se pode chegar na beira da lagoa e talvez por isso ela seja tão bem preservada.

Sabe aquelas paisagens de quebra-cabeça ou capas de caderno que quase não se consegue acreditar em tamanha beleza? É assim. Com certeza o lugar mais bonito que já estive.


Com montanhas ao fundo que em determinada época do ano são cobertas de neve mas nessa época o que parece neve é mesmo sal e um magnifico céu azul.

As montanhas são cobertas por uma vegetação de pequenos tufos de mato que ao se olhar de longe dão a impressão de veludo.


Um problema ali é o frio, mais uma vez a altitude privilegia as baixas temperaturas.

A primeira laguna é chamada de Laguna Miscante a maior e mais bela. A segunda, bem ao lado é a Laguna Miniques que também é bonita e completa a paisagem.


Depois deste espetáculo é hora de voltar e parar em Toconao, um vilarejo com casas de teto baixo, uma praça com um obelisco e uma igrejinha bem simpática. Já disse isso mas vale repetir, os chilenos são muito religiosos. É também a hora da paradinha para os souvenirs.



Aqui também encontra-se um lugar onde podemos ver vegetação verde e várias árvores compridas e algumas árvores frutíferas, contrariando o que se pensa de que no deserto não nasce nada, mas como disse o guia, onde tem água tem vida. E lá corre a água que vem da Cordilheira dos Andes.


Dali fizemos mais uma parada num restaurante para o almoço que estava incluído no pacote e que teve uma boa comida padrão Chile, sopinha de entrada, arroz com carne ao molho e salada, só a sobremesa que foi um sorvete tipo tijolinho da Kibon.

Chegamos em San Pedro no meio da tarde que deu tempo pra pensar na vida e ser tomado pela saudade da minha mulher que um dia antes fizera aniversário e que seria o primeiro aniversário que passaríamos juntos depois de casar, mas eu estava longe... bem longe. Tudo isso contribuía para o turbilhão de pensamentos que rodeavam minha cabeça.

Decidi que partiria no dia seguinte.